"Eu não sei bem se há mulheres que também fazem isto, mas os homens são peritos na matéria: combina-se um jantar, eles até dizem que nos vêm buscar, nós temos dificuldade em adormecer, pensando na roupa que vamos usar no dia seguinte. Pensamos em tudo: no que lhes vamos dizer, o que vamos deixar cair, onde vamos pôr perfume, o que contaremos e o que deixaremos em suspenso para aguçar a curiosidade. Normalmente a dificuldade é tanta em adormecer, que no dia seguinte há quem se queixe das olheiras... bom, mas o assunto merece uma ida à esteticista, ao cabeleireiro. As unhas são pintadas, os pés arranjados. O cabelo recebe uma dose extra de brilho. Não sei se é por ele(s) que fazemos isto, ou por nós, mas terá sido um dia em que se arranjou tempo para tudo. Porque quando há vontade, o tempo não conta.
Nós sentimo-nos quase perfeitas (a perfeição total aborrece as mulheres) e a chegada da hora do encontro vai encher-nos de ansiedade, de roupa em cima da cama, de sapatos espalhados pela casa. Cinco minutos antes estámos prontas e aqui surgem dois cenários: é quando finalizámos o rímel que recebemos um sms dizendo: «Desculpa mas vamos ter de adiar depois explico.» ou então, 15 minutos depois da hora combinada vamos começar a interrogar-nos sobre aquele encontro: se era ele que nos apanhava, se teremos ouvido mal, se as 8 horas da noite seria para o Inverno (porque no Verão às 8 horas ainda há luz...). Há muitas perguntas que chegam na hora do desencontro. Muitas ficarão sem resposta.Quando os homens pura e simplesmente não aparecem para um encontro que estava combinado de véspera, nós não nos aguentámos e ligamos. Eles não atendem e nós mandamos uma sms. Se falarmos com amigas sobre isto, elas ainda serão piores que nós. Vão por a hipótese de lhe ter acontecido alguma coisa, ter ficado sem telemóvel, mas nunca ter-se enganado na miúda... As amigas vão consolar-nos o resto da noite, enquanto ele provavelmente consolará outra amiga.
Os homens têm esta capacidade de passarem indeléveis sobre um incidente como este. Reparem, incidente é para nós que ficámos a ver navios... Para eles foi de certeza uma distracção com algum porta-aviões...Nós, com o despeito e raiva dentro de nós, jurámos-lhe mil pragas duranre uns dias, vemos as movimentações deles na net, mas resistimos estoicamente. Terão passado alguns dias sem ele nunca ter dito fosse o que fosse, e nestes casos até se pode pensar que estariam em coma ou levados pelo mar, não fosse a actividade assídua na net...Não é engraçado que nada digam sobre a falha deles?Então chega a noite em que ela já sossegada disto que foi uma dor, se entusiasma com outros companheiros de Messenger e sem perceber como nem porquê, recebe uma mensagem dele: «Olá, há quanto tempo, que é feito?». Infelizmente não há para ali um chicote, ou um punhal à mão. E se houvesse não seria para ele. É curioso que apesar da indiferença a que fomos votadas, este ressurgimento dele vai encher-nos de tanta excitação, que facilmente esqueceremos a dor que ainda lá estava.
E o que acontece? Passarão a noite nessa troca inconclusiva de mensagens em que não se diz grande coisa, mas que serve para empatar a solidão.
Ele talvez lhe diga qualquer coisa sobre o encontro que só aconteceu na cabeça dela, e ele talvez se justifique dizendo que nesse dia «lhe passou completamente».
Vão começar a encontrar-se todas as noites ali, naquele lugar seguro, onde não sãp precisas depilações, unhas arranjadas, cabelos esticados, roupa nova. Aquele sítio virtual deu lugar à realidade. E já há quem não o troque por nada deste mundo.
O problema será quando inevitavelmente, ela forçar um segundo encontro. Mas dos verdadeiros.
Será que ele vai aparecer?"
in Notícias Magazine, "O Sexo e a Cidália"