28.10.12

Today's state of mind #26

hecallsmebeloved:

jaxson2011:

Rest easy. I got you.


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"Quando o medo chega, deixamos de dominar o cérebro e as emoções. A angústia torna-se um rio a encher-nos o corpo até à boca.
Apertou os lábios para se suster à tona de si mesmo. Tinha de controlar-se, de crer que a morte é a libertação, de lhe dirigir palavras serenas, de desejá-la, entregar-se-lhe como quando se deitava exausto, a face na frescura da almofada, a tepidez dos cobertores, o afago das mãos imaginadas.
Fecha os olhos na espera do definitivo. Afunda-se. Desce devagar por entre as vísceras, os desejos, derrama-se na saliva, no universo do corpo cada vez mais distante, flutuando por poalhas suavíssimas. Acorda com a casa escura, gelada como nunca. Apenas o ruído dos carros ao longe, o apitar do comboio, o vento, o uivo da natureza e dos bichos, as vozes dentro de si, os pensamentos em catadupa lhe trazem a invenção da vida.
Parecia que forças desconhecidas o empurravam para outras dimensões, sonhadas, escondidas, um homem é feito de segredos profundos, de incontáveis horrores e deslumbramentos.
Só a sabedoria da disponibilidade nos protege."

in "O Viúvo", Fernando Dacosta

18.10.12

Das palavras que podiam ser minhas.

"Excelência,
Não me conhece, mas eu conheço-o e, por isso, espero que não se importe que lhe dê alguns dados biográficos. Chamo-me Pedro Miguel, tenho 22 anos, sou um recém-licenciado da Escola Superior de Enfermagem do Porto. Nasci no dia 31 de Julho de 1990 na freguesia de Miragaia. Cresci em Alijó com os meus avós paternos, brinquei na rua e frequentava a creche da Vila. Outras vezes acompanhava a minha avó e o meu avô quando estes iam trabalhar para o Meiral, um terreno de árvores de fruto, vinha (como a maioria daquela zona), entre outros. Aprendi a dizer “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite” quando me cruzava na rua com terceiros. Aprendi que a vida se conquista com trabalho e dedicação. Aprendi, ou melhor dizendo, ficou em mim a génesis da ideia de que o valor de um homem reside no poder e força das suas convicções, no trato que dá aos seus iguais, no respeito pelo que o rodeia.
Voltei para a cidade onde continuei o meu percurso: andei numa creche em Aldoar, freguesia do Porto e no Patronato de Santa Teresinha; frequentei a escola João de Deus durante os primeiros 4 anos de escolaridade, o Grande Colégio Universal até ao 10º ano e a Escola Secundária João Gonçalves Zarco nos dois anos de ensino secundário que restam. Em 2008 candidatei-me e fui aceite na Escola Superior de Enfermagem do Porto, como referi, tendo terminado o meu curso em 2012 com a classificação de Bom. Nunca reprovei nenhum ano. No ensino superior conclui todas as unidades curriculares sem “deixar nenhuma cadeira para trás” como se costuma dizer.
Durante estes 20 anos em que vivi no Grande Porto, cresci em tamanho, em sabedoria e em graça. Fui educado por uma freira, a irmã Celeste, da qual ainda me recordo de a ver tirar o véu e ficar surpreendido por ela ter cabelo; tive professores que me ensinaram a ver o mundo (nem todos bons, mas alguns dignos de serem apelidados de Professores, assim mesmo com P maiúsculo); tive catequistas que, mais do que religião, me ensinaram muito sobre amizade, amor, convivência, sobre a vida no geral; tive a minha família que me acompanhou e me fez; tive amigos que partilharam muito, alguns segredos, algumas loucuras próprias dos anos em flor; tive Praxe, aquilo que tanta polémica dá, não tendo uma única queixa da mesma, discutindo Praxe várias vezes com diversos professores e outras pessoas, e posso afirmar ter sido ela que me fez crescer muito, perceber muita coisa diferente, conviver com outras realidades, ter tirado da minha boca para poder oferecer um lanche a um colega que não tinha que comer nesse dia. Tudo isto me engrandeceu o espírito. E cresci, tornei-me um cidadão que, não sendo perfeito, luto pelas coisas em que eu acredito, persigo objetivos e almejo, como todos os demais, a felicidade, a presença de um propósito em existirmos. Sou exigente comigo mesmo, em ser cada vez melhor, em ter um lugar no mundo, poder dizer “eu existo, eu marquei o mundo com os meus atos”.
Pergunta agora o senhor por que razão estarei eu a contar-lhe isto. Eu respondo-lhe: quero despedir-me de si. Em menos de 48 horas estarei a embarcar para o Reino Unido numa viagem só de ida. É curioso, creio eu, porque a minha família (inclusive o meu pai) foi emigrante em França (onde ainda conservo parte da minha família) e agora também eu o sou. Os motivos são outros, claro, mas o objetivo é mesmo: trabalhar, ter dinheiro, ter um futuro. Lamento não poder dar ao meu país o que ele me deu. Junto comigo levo mais 24 pessoas de vários pontos do país, de várias escolas de Enfermagem. Somos dos melhores do mundo, sabia? E não somos reconhecidos, não somos contratados, não somos respeitados. O respeito foi uma das palavras que mais habituado cresci a ouvir. A par dessa também a responsabilidade pelos meus atos, o assumir da consequência, boa ou má (não me considero, volto a dizer, perfeito).
Esse assumir de uma consequência, a pro-atividade para fazer mais, o pensar, ter uma perspetiva sobre as coisas, é algo que falta em Portugal. Considero ridículas estas últimas semanas. Não entendo as manifestações que se fazem que não sejam pacíficas. Não sou a favor das multidões em protesto com caras tapadas (se estão lá, deem a cara pelo que lutam), daqueles que batem em polícias e afins. Mais, a culpa do país estar como está não é sua, nem dos sucessivos governos rosas e laranjas com um azul à mistura: a culpa é de todos. Porquê? Porque vivemos com uma Assembleia que pretende ser representativa, existindo, por isso, eleições. A culpa é nossa que vos pusemos nesse pódio onde não merecem estar. Contudo o povo cansou-se da ausência de alternativas, da austeridade, do desemprego, das taxas, dos impostos. E pedem um novo Abril. Para quê? O Abril somos nós, a liberdade é nossa. E é essa liberdade que nos permite sair à rua, que me permite escrever estas linhas. O que nós precisamos é que se recorde que Abril existiu para ser o povo quem “mais ordena”. E a precisarmos de algo, precisamos que nos seja relembrado as nossas funções, os nossos direitos, mas, sobretudo, principalmente, com muita ênfase, os nossos deveres.
Porém, irei partir. Dia 18 de Outubro levarei um cachecol de Portugal ao pescoço e uma bandeira na bagagem de mão. Levarei a Pátria para outra Pátria, levarei a excelência do que todas as pessoas me deram para outro país. Mostrarei o que sou, conquistarei mais. Mas não me esquecerei nunca do que deixei cá. Nunca. Deixo amigos, deixo a minha família. Como posso explicar à minha sobrinha que tem um ano que eu a amo, mas que não posso estar junto dela? Como posso justificar a minha ausência? Como posso dizer adeus aos meus avós, aos meus tios, ao meu pai? Eles criaram, fizeram-me um Homem. Sou sem dúvida um privilegiado. Ainda consigo ter dinheiro para emigrar, o que não é para todos. Sou educado, tenho objetivos, tenho valores. Sou um privilegiado.
E é por isso que lhe faço um último pedido. Por favor, não crie um imposto sobre as lágrimas e muito menos sobre a saudade. Permita-me chorar, odiar este país por minutos que sejam, por não me permitir viver no meu país, trabalhar no meu país, envelhecer no meu país. Permita-me sentir falta do cheiro a mar, do sol, da comida, dos campos da minha aldeia. Permita-me, sim? E verá que nos meus olhos haverá saudade e a esperança de um dia aqui voltar, voltar à minha terra. Voltarei com mágoa, mas sem ressentimentos, ao país que, lá bem no fundo, me expulsou dele mesmo.

Não pretendo que me responda, sinceramente. Sei que ser político obriga a ser politicamente correto, que me desejará boa sorte, felicidades. Prefiro ouvir isso de quem o diz com uma lágrima no coração, com o desejo ardente de que de facto essa sorte exista no meu caminho.

Cumprimentos,
Pedro Marques".

Carta dirigida ao Presidente da República.
*



9.10.12

3.10.12

Stay Strong.



Daqui a uma semana já estarei em terras de Sua Majestade.
Numa cidade nova, pessoas novas, numa casa diferente, num quatro que me será estranho. A começar a enquadrar-me a uma realidade diferente. A adaptar-me ao meu primeiro emprego. Sem os Pais nem amigos por perto.
Mas isso não me incomoda muito. Pelo menos numa fase inicial.
Sempre me adaptei, com relativa facilidade, a sítios e situações diferentes, mesmo naqueles momentos mais díspares e adversos. And in this way it shall continue.
Contudo, esta semana está a passar de uma forma absurdamente rápida. Como gostava de que os meus dias tivessem 48 horas. Como eu gostava de fazer 'pausa' e eternizar determinados momentos.
Tento dividir as minhas últimas horas pelas pessoas que mais gosto, enchendo milimétricamente cada cantinho do meu coração com as suas palavras, gestos, sorrisos e abraços.
Tanta coisa que quero fazer, tanta gente que quero ver, e tão pouco tempo para concretizar todos os meus pequenos últimos desejos.
E hoje. Ontem. Amanhã. Tantas dúvidas. Tantos receios. Tantas expectativas. Tanta esperança.
Será que vou gostar de lá estar? Será que optei pelo caminho certo? Serei uma Enfermeira competente, à vista dos olhos Ingleses?
Questões, questões, e mais questões.
Uma mistura antagónica de sentimentos tomou posse de mim nestes últimos dias.
Mas sei que são estas opções de vida que proporcionam, a posteriori, aquele agradável toque agridoce à nossa existência.
A constante luta pela nossa desejada Independência, pelos nossos Ideais de Vida - isso sim é o que nos permite crescer. E, nesse momento, conseguimos finalmente constatar que vale sempre a pena arriscar. E arriscar será agora, nesta infeliz fase negra do nosso pequeno (outrora grande) país que, neste momento, pouco ou nada tem para nos dar.
E enquanto procuramos por um sentido, por um caminho, por um sinal, consciencializámo-nos que estes "pequenos grandes passos" significam que já não somos aquelas pequenas crianças que os nossos pais teimam em pensar que ainda existem, de baixo das suas 'saias', da sua protecção paternal.
E só agora sei que estou a Crescer. A decidir o meu caminho. A minha Vida.
Life was never easy, they say.
E a isto chama-se Responsabilidade.

Sê benvinda à vida Adulta, Joana.


*

2.10.12

Hope.