13.1.13

Das palavras que podiam ser minhas. #3



untitled by margaret durow on Flickr.





«Dizia-lhe sempre "até a um dia destes" deixando no ar, ainda quente dos beijos, o perfume da insegurança – um “até” que a fazia acreditar que continuariam a ver-se , com " um dia destes", a indefinição que amargurava os doces momentos do passado ainda tão presente... Ela preferia dizer-lhe "até amanhã" - mesmo que não fosse o amanhã a seguir ao hoje - até "breve" - por muito longo que pudesse ser - "até daqui a 15 dias" -  mesmo que fossem 16 ou 20.
 "A gente vai falando...", titubeava, já a metros ela, num querer sem querer deixa-la partir …
“Cuida-te” dizia-lhe ela num sussurro que mascarava a vontade de o ter por perto enquanto o abraçava forte e se despediam com um tremido último beijo, a medo que fosse o derradeiro…
Fechavam-se portas, ligavam-se os motores e, já sozinhos, conduziam estrada fora, ambos seguros na vontade mas sem saberem se voltaria a haver um presente a dois, um e outro a temer o sentir, a racionalizar o coração por o medo ser o sentimento maior...
No silêncio das estrelas, sozinhos, prometia em segredo que da próxima vez nada ficaria por dizer...»

                                                                                                                  in, Pedaços de um caminho