13.6.11

Tributo ao 123.º Aniversário de Fernando Pessoa



Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,

Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe

quem é

(E se soubessem quem é, o que saberiam?),

Dais para o mistério de uma cruzada constantemente por

gente,

Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,

Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,

Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,

Com a morte a pôr humidade das paredes e cabelos brancos nos

homens,

Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada do nada.





Álvaro de Campos, in "Tabacaria" (excerto)