29.8.10

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(Marilyn Monroe at the Ambassador Hotel)
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" (...) enganamo-nos, embora contra a nossa vontade, ao acreditarmos que a paixão verdadeira, autêntica, atormenta a alma, ao acreditarmos que existe algo vivo, de tangível, nos sonhos imateriais! Mas que ilusão; veja, por exemplo: o amor avassalou o seu peito com toda a sua inesgotável alegria, com todos os seus extenuantes tormentos... Deite-lhe apenas um olhar rápido e convença-se daquilo que lhe digo! Bastará olhá-lo para acreditar que ele nunca conheceu realmente aquela que tanto amou no seu exaltado sonho? Será possível que apenas a tenha visto entre esses fantasmas fascinantes e que essa paixão não tenha sido para ele mais de que um sonho? Será possível que nunca haja estreitado as mãos dela ao longo de tantos anos da sua vida, sós, entregues a si mesmos, ignorando todo o universo e unido cada um deles o seu universo, a sua vida, à vida do outro? Será possível que não tenha sido ela quem, ao crepúsculo, no momento da separação, se tenha reclinado, soluçante e desesperada sobre o seu peito, sem escutar a tempestade desencadeada debaixo de um céu lúgubre, sem ouvir o vento que arrancava e arrastava com fúria as lágrimas que brotavam dos seus cílios negros? Será póssível que tudo isto não tenha passado de um sonho, este jardim melancólico, abandonado e selvagem, com as suas áleas povoadas de musgo, solitário e hostil, por onde tantas vezes passearam ambos, esperando, desesperando, amando, amando-se mutuamente, durante tanto tempo, tão longa e ternamente?
E, com efeito, este mundo fantástico do faz-de-conta cria-se com tanta facilidade, tão naturalmente! Como, se na verdade, tudo isso não fosse ilusão! Em certas alturas, somos verdadeiramente levados a acreditar que toda esta vida não é uma exaltação dos sentidos, de uma miragem, de um equívoco da imaginação, mas sim de algo real, de autêntico, de existente."



Fiodor Dostoievsky


in Noites Brancas