Hoje estava eu relaxando numa esplanada ao pé da praia, quando li este artigo deveras interessante para nós - mulheres (e não só) - da escritora Cidália Dias:
«Os homens são mais egoístas do que as mulheres, não são? Esta pergunta é certeira para atrair clientela: eles furiosos a acharem que estou novamente amarga e elas contentes por haver quem dê voz ao que sentem. Vocês poder-me-ão contar as vossas experiências, mas há um dado que não falha: as mulheres são quase sempre cuidadoras, mesmo que a carreira lhes tenha subido à cabeça, mesmo que não lhes interesse ter familia ou filhos. Elas cuidam, e há quem queira ser cuidado, mesmo que não faça nada por merecer isso...
Há duas imagens recorrentes no meu quotidiano, homens que mastigam em silêncio à mesa (saciando o apetite, como se essa necessidade primária fosse a razão da sua existência) e taxistas mudos (desculpem-me os verdadeiros) que vêem uma mulher a entrar no carro (às vezes carregadas de compras e crianças) e nem uma "boa tarde" oferecem aos passageiros. Se eu andasse com uma pá das obras na carteira dava-lhes com ela na cabeça. Estes homens assustam-me: não vejo diferença entre os antepassados da caverna e estes - cuja úncia diferença parece capilar...
O silêncio dos homens nem sequer é inquietante. É só aborrecido. É um silêncio que denuncia desinteresse, preguiça, fastio (mesmo que engulam a dobrada em cinco minutos). Dir-me-ão vocês: "Mas eles não foram educados de outra maneira!" Pois é verdade, mas os dias sucedem-se para questionarmos a vida e tudo o que ainda não aprendemos. Não terão as mulheres culpa do egoísmo dos homens?! Se Deus existisse (permitam-me duvidar da sua existência), pedia-lhe paz no mundo e mais homens heterosexuais (desculpem-me os gays, mas as minhas amigas precisam de companheiros). Sim, bastava haver mais homens para as mulheres sossegarem. Mesmo que depois elas não os quisessem, e provavelmente era isso que aconteceria...
Esta ideia generalizada de que há poucos homens disponíveis tornou-se a maior angústia das mulheres. Elas vivem aterrorizadas a pensar se os poucos que ainda "sobram" vão reparar nelas. E portanto disponibilizam-se para sofrer. Oferecem o seu corpo e a sua devoção aos trogloditas do planeta. Pensam que pelo menos assim têm qualquer coisa, mesmo que seja tudo uma consumição. Aceitam comprar-lhes as meias e as cuecas, os impressos do IRS, o lanche para o trabalho, os preservativos para a noite (duvidando se só os usarão com elas...). Já os homens, coitados, pressionados pelas quadras festivas (e hediondas!) do Dia dos Namorados, do aniversário (que os telemóveis já fazem o favor de lembrar) ou do Natal, acabam num ataque de nervos a telefonar da loja - quando tudo indicava que seria uma surpresa, a dizer coisas como: "É pá, estou aqui em frente a uns sapatos, mas eu sei lá que número tu calças!" Às vezes já passaram dez anos e ele ainda não fixou o número que ela calça, enquanto que as últimas 397 jornadas da bola estão na ponta da língua... Sabem o que acontece? Ela olha para as colegas, enternecida, e diz: "Que querido, foi comprar-me uma prenda." E então apressa-se a ir comprar o marisco que ele gosta, o filme que ele grunhiu querer ver, o vinho branco que ele disse ter bebido com os colegas.
Será que os homens têm algum problema de memória? Será que a mancha do egoísmo que os cobre ensombra quase tudo?
Abusando de Deus, também lhe pediria - já agora - para acabar com o futebol. Vocês já pensaram no tempo que se perde com os jogos,as lesões, as contratações e as guerras nos túneis, mais a pancadaria nas estações de serviço? Privem os homens de bola, obriguem-nos a pensar com a cabeça em vez de sentirem com os pés. No fundo, eles têm com a bola a mesma relação que têm com os homens: uma obsessão desigual. Eles idolatram os craques da bola que ganham com um arroto aquilo que eles nunca ganharão na vida toda. Já elas precisam de viver a vida inteira para ganhar uns minutos da atenção deles.»